terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Contra Reforma

A Contrarreforma, também denominada Reforma Católica é o nome dado ao movimento criado no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de 1517. Em 1543, a igreja convocou o Concílio de Trento estabelecendo entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do "Index Librorum Prohibitorum", com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas dedicadas a essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus. Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e seminários, a proibição das indulgências[3].
Para Mcnall Burns, professor de História da Rutgers University, a contrarreforma não seria propriamente um movimento da Igreja Católica de reação à contestação iniciada por Martinho Lutero. Segundo Burns, a Revolução Protestante foi apenas uma das fases do grande movimento denominado como "Reforma", a outra fase foi a "Reforma Católica". Para Burns, estudos recentes mostram que os primórdios do movimento reformista católico teriam sido em tudo independentes da Revolução Protestante". Daniel-Rops, da Academia Francesa, nega a existência de relações de causa e efeito entre a reforma católica da reforma protestante: "Nem na ordem cronológica nem na ordem lógica temos o direito de falar de "contrarreforma" para caracterizar esse salto gigantesco, esse admirável esforço de rejuvenescimento e ao mesmo tempo de reorganização que, em cerca de trinta anos, deu à Igreja um rosto novo"..."Se, cronologicamente, a Reforma católica não é uma "contrarreforma", também não é no processo do seu desenvolvimento."
G. Battelli no Dizionario di Storiografia online, afirma que a maioria dos historiógrafos católicos e protestantes, hoje distinguem claramente a "Reforma católica" da "Contrarreforma", o primeiro deles, no final do século XIX, foi o protestante Maurenbrecher.

A Reforma

Em decorrência da Reforma protestante, o mundo cristianizado ocidental, até então hegemonicamente católico, viu-se dividido entre cristãos católicos e cristãos não mais alinhados com as diretrizes de Roma. O catolicismo havia perdido terreno, deixando de ser a religião oficial de muitos estados da Europa e, consequentemente, o mesmo ameçava se repetir nas novas colônias do Novo Mundo. Nesse contexto, surgiu a necessidade de reformas na igreja católica, a fim de e reestruturá-la e barrar o avanço protestante.
De acordo com Burns a Renascença foi acompanhada de um outro movimento - a Reforma. "Este movimento compreendeu duas fases principais: a Revolução Protestante, que irrompeu em 1517 e levou a maior parte da Europa setentrional a separar-se da igreja romana, e a Reforma Católica, que alcançou o auge em 1560. Embora a última não seja qualificada de revolução, na verdade o foi em quase todos os sentidos do termo, pois pareceu que efetuou uma alteração profunda em alguns dos característicos mais notáveis do catolicismo da Idade Média." Acontecimentos reformistas foram o Quinto Concílio de Latrão, os sermões reformistas de Juan Colet, a publicação do Consilium de Emendanda Ecclesia de Gasparo Contarini e a fundação do Oratório do Amor Divino. Em 1517 o papa Leão X decretou a venda de indulgências, que assegurarariam o perdão dos pecados de uma pessoa em troca de uma quantia em dinheiro. O dinheiro seria usado no término da construção da basílica de São Pedro, em Roma.
Na Saxônia (região na atual Alemanha), o monge Martinho Lutero revoltou-se com o escândalo das indulgências. Como resposta, ele pregou na porta da basílica de Wittenberg um documento com 95 (noventa e cinco) pontos contrários aos ensinamentos e as práticas da Igreja Católica, que recebeu o nome de "As 95 Teses".

Primórdios da Reforma Católica
Em 31 de Outubro de 1517 Lutero publicou em Wittenberg as suas Noventa e cinco teses contra as indulgências, dentre estas 95 teses um ou dois argumentos eram contra a crença de que se faria o perdão dos pecados mediante o pagamento de determinada quantia, defendendo que só Deus pode perdoar o homem.
Em 1519 este monge católico foi acusado de heresias que tinha publicado, foi alertado pelas autoridades Vaticanas o ameaçaram e o mandaram retratar-se perante o príncipe, e em acto de rebeldia, negou-se, sendo então excomungado. Todas as igrejas que estavam insatisfeitas com a liturgia e a tradição católica-romana no ocidente passaram a ser designadas de igrejas protestantes, pois na Dieta de Worms os príncipes alemães protestaram para que o Imperador Carlos V permitisse que eles professassem suas fés.
"Já na segunda metade do século XV, tudo o que havia de mais representativo entre os católicos, todos os que tinham verdadeiramente consciência da situação, reclamavam a reforma, por vezes num tom de violência feroz, e mais frequentemente como um ato de fé nos destinos eternos da 'Ecclesia Mater'." (Rops)[5] A Espanha sobressaiu-se como vanguarda da Reforma Católica. "Na Espanha durante os últimos anos do século XV, uma revivescência religiosa iniciada pelo Cardeal Cisneros agitou profundamente o país. (...) Também na Itália, desde o início do século XVI, um grupo de clérigos fervorosos vinha trabalhando para tornar os sacerdotes da sua igreja mais dignos da missão."
Os reis católicos consideraram a reforma eclesiástica como uma parte essencial da restauração do estado, que norteou a sua política. o cardeal Cisneros reformou os franciscanos com São Pedro de Alcântara e a vida monástica, notadamente a dos beneditinos, a Universidade de Alcalá, por ele fundada, foi um grande centro de estudos teológicos e humanísticos e fez publicar a célebre Bíblia Poliglota Complutense.
A obra de renovação espiritual do clero e do povo levada a efeito por São João de Ávila constitui um capítulo à parte na história religiosa do século XVI. Santa Teresa de Ávila reformou a Ordem do Carmelo e São João da Cruz estendeu a reforma aos frades carmelitas.
A mais importante fundação religiosa, no entanto, neste século foi a da Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loyola; quando o seu fundador morreu esta ordem contava com mais de mil membros e meio século depois com 13.000. Os jesuítas prestaram o mais relevante serviço ao Pontificado no trabalho da Reforma Católica com as suas missões, a formação do clero e a educação da juventude, na propagação da fé católica e no ensino da sua doutrina. Segundo Burns, deveu-se em grande parte ao trabalho da Companhia de Jesus "o fato de a Igreja Católica ter recuperado muito de sua força a despeito da secessão protestante."
Também na Itália davam-se inquietações por uma renovação cristã. Surgiu a Ordem dos Teatinos (1524), a Ordem dos Barnabitas (1534), os somascos o Oratório do Amor Divino e o trabalho de Caetano de Thiene e de João Caraffa. Na Itália surgiram também os Capuchinhos como um novo tronco dos Franciscanos, alcançando grande popularidade pela austeridade de vida e dedicação ao ensino.

Apogeu da Reforma Católica
O auge da reforma católica se deu com os papas reformistas. O primeiro deles foi Adriano VI, sucedeu-lhe Clemente VII com um governo de nove anos. Os papas Paulo III, Paulo IV, Pio V e Sixto V cobriram um período que vai de 1534 a 1590, foram os mais zelosos reformistas que presidiram a Santa Sé desde Gregório VII
As finanças da Igreja foram reorganizadas e os cargos foram ocupados por padres e religiosos de reconhecida fama de disciplina e austeridade e foram rigorosos com os clérigos que persistiam no vício e no ócio. A ação dos papas reformistas foi completada com a convocação do Concílio ecuménico que se reuniu na cidade de Trento.

O Concílio de Trento
O acontecimento central da Reforma Católica foi a convocação do Concílio. O Papa Paulo III reuniu os representantes máximos da Igreja no Concílio de Trento (entre 1545 e 1563), onde foram reafirmados os princípios da Igreja Católica.
No campo doutrinal o Concílio reafirmou, sem exceção, os dogmas atacados pela Reforma Protestante, declarou-se antes de tudo que: 1) a Revelação divina se transmite pela Sagrada Escritura, mas esta Sagrada Escritura abaixo da Tradição da Igreja, e a palavra do Papa é tida como infalivel acima das Escrituras Sagradas e que estas devem ser interpretadas pelo Magistério da Igreja e pela Tradição. 2) O Concílio, ainda, enfrentou o tema chave da questão da "justificação" e, contra as teologias luterana e calvinista, ensinou e declarou que a Salvação vem pelas Obras e o perdão pelas penitências 3) Definiu-se ser verdade também a doutrina dos sete Sacramentos e as notas próprias de cada um deles.
O Concílio confirmou, como elementos essenciais da religião católica,como verdades absolutas (dogmas) a transubstanciação, a sucessão apostólica, a crença no purgatório, a comunhão dos santos e reafirmou-se o primado e autoridade do Papa como sucessor de São Pedro contudo não reconheceu o erro de vender indulgências e o considerou como certo.
No campo disciplinar procurou-se com empenho a por fim nos abusos existentes no clero, confirmou o celibato clerical e religioso, melhorou-se substancialmente a sua formação intelectual e cultural e mas não exigiu-se uma elevada moralidade e espiritualidade dos seus integrantes pois não existe relatos de punições para os seus subordinados os mesmo poderiam ser punidos se aceitasse a fé protestante.
Obrigou-se aos párocos a ensinar a catequese às crianças e a dar doutrina e instrução religiosa aos fiéis. Os habitantes de terras descobertas, foram catequizados através da ação dos jesuítas. Retomou-se o Tribunal do Santo Ofício e Inquisição: para punir e condenar os acusados de heresias e todos os outros que não aceitassem a autoridade da igreja romana.

O pós-Concílio
O período que se seguiu ao Concílio de Trento foi marcado por uma grande renovação da vida católica. A reforma fundada nos decretos e nas constituições tridentinas foi levada a efeito pelos papas que se sucederam. Foi criado o "Index Librorium Proibitorium" ( Índice de Livros Proibidos ) para evitar a propagação de idéias contrárias à fé da Igreja Católica. Todos estes livros proibidos eram queimados, a Igreja Católica proibiu-os de ser lidos, porque os livros que continham principalmente feitiçaria davam medo. Publicou-se uma Catecismo Romano, um Missal e um Breviário por ordem de São Pio V.
O espírito tridentino deu oportunidade ao surgimento de bispos exemplares como São Carlos Borromeu, zeloso arcebispo de Milão. São Filipe de Néri contribuiu para a renovação do espírito cristão da Cúria Romana, São José de Calassanz fundou as Escolas Pias e desenvolveu abnegada atividade de formação da juventude entre as classes populares e São Francisco de Sales difundiu a piedade pessoal - a vida devota - entre os leigos que viviam no meio do mundo.
Também são fruto e conseqëncia da Reforma Católica levada a efeito pelo Concílio a renovação da arte sacra cristã, com o surgimento do Barroco que é o estilo artístico da Reforma Católica. Portugal e Espanha levaram a fé católica para além-mar. Hoje os católicos da América Latina e das Filipinas constituem a grande reserva demográfica da Igreja e do Cristianismo. Em 1622 foi criada a Congregação de Propaganda Fide.
Na esteira da dinâmica tridentina, por iniciativa de São Pio V, organizou-se a "Santa Liga" que levou a cabo uma autêntica Cruzada contra os turcos otomanos que os derrotou na famosa batalha de Lepanto sob o comando de João de Áustria. Pela ação de missionários como São Francisco de Sales obteve-se a reconquista religiosa de uma porção importante dos povos do centro europeu, e ainda na Áustria, na Baviera, na Polônia, na Boécia e na Ucrânia.
A cisão cristã definitiva, entretanto, se deu com o final da Guerra dos Trinta Anos e com a paz de Vestfália, com ela o avanço da reconquista católica na Alemanha ficou bloqueado, ali estabeleceu-se o princípio cuius regio eius religio, cada um siga a religião de seu Príncipe, o que consagrou a fragmentação religiosa germânica num povo dividido em mais de trezentos principados e cidades.

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