segunda-feira, 4 de julho de 2011

Judaísmo

Judaísmo

O Judaísmo é uma crença monoteísta que se apóia em três pilares: na Torá, nas Boas Ações e na Adoração. Por ser uma religião que supervaloriza a moralidade, grande parte de seus preceitos baseia-se na recomendação de costumes e comportamentos "retos".

O Deus apresentado pelo Judaísmo é uma entidade viva, vibrante, transcendente, onipotente e justa. Entre os homens, por sua vez, existem laços fraternos, e o dever do ser humano consiste em "praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente nas sendas divinas".

A prática da religião está presente no dia-a-dia do judeu. Ela se estende até sua alimentação, que deve ser kosher, ou seja, livre de comidas impuras (certas carnes, como a suína, entre outras substâncias, não são permitidas). Outro hábito arraigado é a observação do Shabat, o dia do descanso, que se estende do pôr-do-sol da sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado, e que é celebrado com rezas, leituras e liturgias na Sinagoga, o templo judaico.

Em essência, o Judaísmo ensina que a vida é uma dádiva de Deus e, por isso, devemos nos esforçar para fazer dela o melhor possível, usando todos os talentos que o Criador nos concedeu.

As escrituras sagradas, as leis, as profecias e as tradições judaicas remontam a aproximadamente 3 500 anos de vida espiritual. A Torá, que também é conhecida como Pentateuco, corresponde aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento bíblico (os outros dois são Salmos e Profecias). O Talmud é uma coleção de leis que inclui o Mishná, compilação em hebraico das leis orais, e o Gemará, comentários dessas leis, feitos pelos rabinos, em aramaico.

Subdivisões do Judaísmo

Judaísmo Conservador

Esta corrente defende a idéia de que o Judaísmo resulta do desenvolvimento da cultura de um povo que podia assimilar as influências de outras civilizações, sem, no entanto, perder suas características próprias. Assim, o Judaísmo Conservador não admite modificações profundas na essência de suas liturgias e crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos, conforme a necessidade do fiel.

Judaísmo Ortodoxo

Corrente que se caracteriza pela observação rigorosa dos costumes e rituais em sua forma mais tradicional, segundo as regras estabelecidas pelas leis escritas e na forma oral. É a mais radical das vertentes judaicas.

Judaísmo Reformista

O Movimento Reformista defende a introdução de novos conceitos e idéias nas práticas judaicas, com o objetivo de adaptá-las ao momento atual. Para esta corrente, a missão do judeu é espiritualizar o gênero humano - a partir deste ponto de vista, torna-se obsoleto qualquer preceito que vise separar o judeu de seu próximo, independentemente de crença ou nação.

Igreja Ortodoxa

No ano de 1054 houve um cisma entre as Igrejas Cristãs – de um lado, permaneceu o Catolicismo, submetido à autoridade papal; do outro, várias igrejas orientais uniram-se em torno do poder do Patriarca de Constantinopla, constituindo a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, mais conhecida como Igreja Ortodoxa. Esta expressão, advinda do grego, significa ‘doutrina reta’; os seguidores desta vertente são chamados de cristãos ortodoxos.

Até hoje os ortodoxos mantêm intactos seus rituais primitivos, ministrados pelos padres apostólicos, e também o Credo Niceno. Esta Igreja alicerçava-se em cinco Patriarcados, os de Antioquia, Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Roma, todos livres na esfera administrativa. No campo dos ritos, porém, as Igrejas são muito semelhantes, e seus princípios de fé são os mesmos. O Patriarca de Constantinopla detém uma denominação tão somente honorária, porque os patriarcas de cada instituição são dependentes entre si. Esta estrutura hierárquica tem um claro objetivo, demonstrar que Jesus é o único líder da Igreja, sem nenhum representante na Terra.

A maior autoridade na Igreja Ortodoxa é o Santo Sínodo Ecumênico, desde a sua fundação até os dias atuais. Ele é integrado por todos os patriarcas que lideram as igrejas autocéfalas e pelos arcebispos-primazes das igrejas independentes, que se unem quando são convocados pelo Patriarca de Constantinopla. Este Concílio teve seu poder contestado pela Igreja Católica Romana em 1054, data da dissidência religiosa entre as Igrejas Cristãs. Os ortodoxos, ao obedecerem ao Patriarca, negam a liderança do Papa e sua impossibilidade de se enganar.

Cada Igreja está submetida também a uma autoridade regional, o Santo Sínodo Local. Por outro lado, os patriarcados têm a liberdade de buscar a solução de seus problemas específicos com o máximo de autonomia, podendo inclusive substituir seus próprios bispos, até mesmo o patriarca, o arcebispo ou o Metropolita que dirija esta instituição. A Ortodoxia aceita a existência de sete Concílios Ecumênicos – os de Nicéia, Constantinopla, Éfeso, Calcedônia, Constantinopla II, Constantinopla III e Nicéia II.

Há pelo menos quatorze Igrejas Ortodoxas Autocéfalas – as quatro mais antigas, ou seja, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém (todas elas constituem patriarcados); bem como as dez Igrejas Ortodoxas que surgiram ao longo do tempo: Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Geórgia (estas também são consideradas patriarcados), Chipre, Grécia, Albânia e República Tcheco-Eslováquia (estas últimas são lideradas por um arcebispo ou por um Metropolita).

Seus rituais são constantemente revestidos de pompa e constituem a essência da fé ortodoxa. A parte musical dispensa os instrumentos, expressando-se apenas através dos cantos realizados por corais. A ortodoxia não permite o uso de imagens esculturais na decoração, somente pintura sobre madeira representando os santos, Jesus e sua mãe, Maria. Surgiram nas diversas Igrejas, devido à sua autonomia, as mais variadas cerimônias eclesiásticas, que correspondem mais à diversidade das línguas e das culturas regionais, do que a qualquer discordância doutrinária. Os cinco rituais mais importantes são o bizantino – encontrado na maior parte das Igrejas Ortodoxas -, o alexandrino, o antioquino, o armênio e o caldeu.

O ascetismo organizado é a base da força vital que anima a crença ortodoxa, e seu principal mosteiro está localizado no Monte Athos, na Grécia. Na Igreja Ortodoxa todos os bispos são considerados herdeiros da tarefa apostólica, portanto são portadores dos mesmos direitos, não havendo nenhuma diferença entre eles e os outros integrantes do clero ortodoxo. Os únicos critérios para a concessão de cargos eclesiásticos são a experiência trazida pela idade e a sabedoria. A Igreja está presente em cada local no qual se consagre a Eucaristia. Esta instituição também adota o Novo Testamento, e segue igualmente as leis instituídas pelos sete primeiros Concílios Ecumênicos. Além destes pontos em comum com a Igreja Católica Romana, ela tem seu diferencial na filiação aos livros patrísticos.

Ao contrário do Catolicismo, para a Igreja Ortodoxa o Espírito Santo provém do Pai, mas não está ligado ao Filho; o purgatório não existe e os ortodoxos não crêem na virgindade de Maria, embora admitam sua elevação aos Céus. Na estrutura clerical, apenas os bispos são obrigados a manter o celibato, os padres são liberados para o matrimônio, desde que este se dê antes da sua ordenação.

No Brasil a Igreja Ortodoxa desembarcou junto com os imigrantes árabes. A primeira instituição foi edificada em São Paulo, no ano de 1904. A imponente Catedral Ortodoxa foi aberta ao público em 1954, no auge da celebração do IV Centenário da metrópole.

Fontes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Ortodoxa
http://www.ecclesia.com.br/igreja_ortodoxa/index.html
http://www.brazilsite.com.br/religiao/outras/ortod.htm

Shintoismo (Xintoísmo)

O Shintoismo (Xintoísmo) é uma religião essencialmente japonesa e que retrata bem a maneira de ser daquele povo. Não é fácil se admitir que ela condicionou a imagem da maneira de ser do povo japonês ou se foi o inverso, a maneira de ser desse povo que condicionou os aspectos do Shintoismo. Pessoalmente aceitamos mais esta segunda possibilidade, pois que aquela religião não tem um fundador nem um texto que possa ser tido como escritura sagrada. Na verdade essa religião foi se construindo a partir de uma variedade imensa de costumes, e cujo panteão é composto por um aglomerado de deidades inerente a cada região, a cada clã e mesmo a determinados lugares e pessoas.
O Xintoísmo é a religião japonesa mais antiga, o seu início é obscuro, mas tudo indica que já existia na metade do primeiro milênio a.C., mas que somente a partir do sexto século d.C., quando o povo japonês começou lentamente a integrar com as demais civilizações continentais, foi que os registros foram sendo conhecidos fora do Japão. Naquele período existia como uma mistura amorfa de cultos relacionados com a adoração à natureza, com a fertilidade, com métodos de adivinhação, devoção aos heróis, e ao shamanismo.

O Shintoismo, portanto, foi se constituindo a partir da junção de tudo o que referimos antes, por isto se trata de uma religião que não teve um fundador como aconteceu com o Budismo, o Cristianismo, o Islamismo e outras. Por esta razão também tem qualquer cânon de escrituras sagradas, nem uma filosofia religiosa explícita, ou um código moral específico. Suas raízes estão fixadas apenas em práticas religiosas pré-históricas. Na verdade o Xintoísmo derivou da adoração japonesa de deuses terrestres e ancestrais desde o começo da sua história quando todo clã tinha seu próprio deus (Ujigami).

Os deuses do Shintoismo são em grande número, cerca de oito milhões de deidades. Também é muito elevado o número de santuários dedicados às deidades do shinto e que começaram a ser erguidos a partir do 3º e 4º séculos.

O Xintoísmo confere qualidades divinas ao Sol, aos astros, e também a locais específicos tais como rios, lagos e lugares de grande beleza natural como bosques, fontes, pedras, montanhas, como acontece com referência ao Monte Fuji (Montanha Sagrada do Japão).

No panteão das deidades do Shinto também estão incluídos elementos abstratos como a fertilidade, o crescimento, a beleza, a produtividade, etc. incluindo-se a alma de pessoas importantes tais como guerreiros, líderes, poetas. Nesta relação inclui-se a família imperial (A deusa Amaterasu de quem acreditam descender a família imperial) assim como também um imenso número de divindades ancestrais de clãs (uji).

Um outro aspecto do Shintoismo, com referência às deidades, compreende a adoração em santuários (jinja) estabelecidos em honra a elas e nos quais determinadas deidades podem residir. Afirmam que uma deidade pode também residir em objetos (Shintai objeto sagrado no qual o kami reside).

Talvez o símbolo mais universalmente conhecido seja o Torii, trata-se de um portal composto por dois suportes verticais e dois horizontais pintados de vermelho e que é colocado na entrada dos templos demarcando a área sagrada do santuário e sob o qual os devotos costumam passar.

Há datas especiais de adoração, momentos importantes relativas ao ciclo da vida de indivíduos (nascimento, mocidade, matrimônio, e mais recentemente, e até mesmo de exames de entrada escolares). Também há as datas festivas (matsuris) relativas aos diversos períodos anuais, tais como o ano novo, o advento do plantio do arroz, o solistício do verão, o início da colheita, e assim por diante.

Existe um número imenso de santuários xintoístas. Há santuários de importância nacional, como o Santuário Principal de Ise, consagrado a Amaterasu, e associado com a família imperial, pelo que se constitui um centro nacional de peregrinação, mas o número de santuários é fabuloso, especialmente porque normalmente cada família tem seu próprio, e até mesmo cada pessoa em particular. As famílias costumam ter um "matsuri" especial relativo à sua própria história e fundação.

Em muitas ocasiões os santuários estão repletos de devotos que buscam bênçãos para suas fortunas, e purificações que são conferidas pelos sacerdotes.

No período de Heian (710 - 1185 d.C.) o Xintoísmo sofreu grande influência do Budismo Indiano. Assim certos kami foram criados como manifestação de Budhas. Grandes influências da cultura chinesa se fizeram sentir sobre o Xintoísmo, tanto quanto do Confucionismo.

Durante o período de Tokugawa (1603 - 1868), as seitas budistas se tornaram instrumentos do regime feudal, por isso o Xintoísmo passou a ser considerado cada vez mais como a fonte exclusiva da identidade japonesa, em detrimento de outras ideologias estrangeiras e a partir daí a influencia budistas e confuncionista decresceu.

A palavras Xintoísmo quer dizer modo dos deuses, cuja essência é "kami".

Os xintoísta dizem que tudo tem seus próprios espíritos os quais eles chamam "kami". Até mesmo um homem se torna Kami quando ele morre. Dizem que existem oito milhões Kami no mundo, mas tendo-se em mente que a palavra milhões apenas significam "muitos" por isto o número de Kami é considerado muito superior àquela quantidade. Dizem que o Espírito Divino é encontrado em todas as coisas quer sejam nas coisas do céu quer da terra. Pensando assim para os xintoístas existem os "kami" das montanhas - especialmente o Monte Fuji - do sol, da lua, dos planetas, das estrelas, e até mesmo das plantas, dos animais, dos seres humanos. Também há um "kami" de uma cerejeira que floresce, de uma árvore bonsai, dos jardins formais, e do Sakaki (a árvore santa). Podemos ver que os "kami" num certo sentido são equivalentes aos elementais da natureza citados por outras doutrinas.

De um modo geral o xintoísta reconhece o Sol como um irmão querido; as montanhas, como irmãs; os animais, como irmãos; as flores, como irmã, e assim por diante.

Entre os inúmeros "kami", há aqueles que são responsáveis pela boa colheita e tem o nome de "Fuku-nenhum-kami" e também os que trazem desastres, chamados de Magatsu-Kami. Por isto dizem ser importante se invocar Fuku-nenhum-Kami e repelir Matatsu-Kami.

No xintoísmo existem muitos festivais anuais, praticamente cada efeméride, cada fase do calendário anual (Primavera, inverno, outono, verão) é assinalada com um deles e ligados aos festivais existe um número expressivo de canções e danças compondo rituais específicos.

No Japão cada aldeia tem seu próprio santuário de shinto no qual é divinizado o kami mais importante na aldeia. Algumas divinizaram kami da água (Ryu-jin ou um espírito de dragão); outras, o kami de uma velha árvore, e assim por diante. Quando um membro importante de uma aldeia morre, ele pode ser aceito como um Kami secundário.
O Xintoísmo aceita o mundo material como bom em contraposição ao Budismo que o considera mal. Estes conceitos opostos resultam do Xintoísmo ser dualista e o Budismo Monista, como discutiremos noutra palestra.

Segundo os xintoístas foram os "kami" que criaram as ilhas de Japão e que a deusa do sol Amaterasu foi à mãe do primeiro imperador que foi enviado a terra para fundar a dinastia imperial. Esta convicção era sagrada e se tornou a base de Xintoísmo Estatal, e como conseqüência o Imperador se tornou símbolo da unidade da nação. Esta tradição foi que determinou o respeito pelas autoridades do estado, especialmente pelo Imperador e a sua família. Este tem sido um conceito sempre foi muito arraigado na cultura japonesa e que fez com que o Xintoísmo fosse a religião oficial do Japão por muito tempo.

Hinduísmo

Hinduísmo

O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo. Não há um fundador desta religião, ao contrário de tantas outras - no Islamismo, por exemplo, temos Maomé, e no Budismo, o próprio Buda. O Hinduísmo, na verdade, se compõe de toda uma intersecção de valores, filosofias e crenças, derivadas de diferentes povos e culturas.

Para compreender o Hinduísmo, é fundamental situá-lo historicamente. Por volta de 3 000 a.C., a Índia era habitada por povos que cultuavam o Pai do Universo, numa espécie de fé monoteísta. Pouco depois, em 2 500 a.C., floresceu a civilização dravídica, no vale do rio Indo, região que hoje corresponde ao Paquistão e parte da Índia. Os drávidas eram adeptos de uma filosofia de louvor à natureza, de orientação matriarcal e baseada no princípio da não-violência. Porém, em 1 500 a.C., os arianos invadiram e dominaram aquela região, reduzindo os antigos drávidas à condição de "párias" - espécie de sub-classe social, que até hoje permanece sendo a casta mais baixa da pirâmide social indiana.

Hinduísmo Védico e Hinduísmo Bramânico

Na primeira fase do Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, temos o culto aos deuses tribais. Dyaus, ou Dyaus-Pitar ("Deus do Céu", em sânscrito), era o deus supremo, consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. O Sol (Surya), a Lua (Chandra) e a Aurora (Heos) eram os deuses da luz. Divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo. A partir da influência ariana, o simbolismo de Dyeus passou por uma transformação e tornou-se Indra, jovem divindade que rege a guerra, a fertilidade e o firmamento. Indra representa os aspectos benevolentes da tempestade, em contraposição a Rudra, provável precursor do deus Shiva, o destruidor. Também nesse período surgiram diversas outras divindades, inclusive Asura, representante das forças maléficas.

Na segunda fase do Hinduísmo, que recebe os nomes de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico, ocorre a ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma é um dos deuses que compõem o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo. Ele representa a força criadora. Os dois outros deuses são Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu. Os rituais ganham uma série de componentes mágicos e elaboram-se idéias mais complexas acerca do Universo e da alma, inclusive conceitos como o de reencarnação e o de transmigração de almas.

Mais História - A terceira fase

No século 12, a Índia é invadida pelos muçulmanos, e grande parte de sua população é forçada à conversão. Aliás, o termo hindu designava qualquer pessoa nascida na Índia, mas a partir do século 13 este termo ganhou uma conotação religiosa, tornando-se sinônimo de "nativo não-convertido ao Islamismo".

A influência muçulmana se faz sentir dentro da ritualística hindu, pois uma das características marcantes do Hinduísmo é sua capacidade de absorver novos elementos e agregá-los ao seu sistema de crenças. Isso também ocorre quando, no século 18, o Cristianismo se insere no universo indiano, pela influência predominante dos colonizadores franceses.

Este Hinduísmo híbrido também se divide em várias correntes, cujos expoentes são gurus como Sri Ramakrishna (1834-86), Vivekananda (1863-1902) e Sri Aurobindo (1872-1950). O que essas correntes têm em comum é a preocupação em estender o trabalho espiritual ao âmbito social, por meio de trabalhos filantrópicos e assistenciais.

Por força dessa nova fase, a própria organização social da Índia - em sistema de castas -, começa a perder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. O maior mestre do Hinduísmo moderno é Mahatma Gandhi (1869-1948), conhecido no Ocidente como chefe político, mas venerado na Índia como guru espiritual. Gandhi, adepto da Ahimsa (o princípio da não-violência), apregoava a importância do homem exercer perfeito controle sobre si mesmo.

Hoje, o Hinduísmo é a crença predominante na Índia. Mais do que uma religião, ele se caracteriza como uma tradição cultural, que engloba modo de viver, ordem social, princípios éticos e filosóficos.

As Escrituras Sagradas

VEDAS: Primeiros livros do Hinduísmo, surgidos aproximadamente no ano de 1 000 a.C., que aglutinam quatro coletâneas de textos. Dentre eles, destaca-se o Mahabharata, que contém o poema épico Bhagavad Gita (A Canção do Senhor). O conteúdo dos Vedas oscila entre o Monoteísmo (culto a um deus único) e o Politeísmo (culto a diversos deuses).

UPANISHADS: Essas escrituras, que podem ser traduzidas como Doutrinas Arcanas, foram redigidas por místicos que representam o expoente máximo do Bramanismo (uma das vertentes do Hinduísmo). Sua estrutura é a de uma série de diálogos entre mestres e discípulos, cujo ensinamento fundamental é o seguinte: o mundo em que vivemos é feito de maya (ilusão), e embora possamos ter a impressão de que o mundo é real, a única verdade é Brahma, a divindade suprema.

Fundamentos importantes

  • Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das nossas ações, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma.
  • Enquanto não atingimos a libertação final - chama de moksha -, passamos continuamente por mortes e renascimentos. Este ciclo é denominado Roda de Samsara, da qual só saímos após atingirmos a Iluminação.
  • Os rituais se compõem de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação / contemplação da divindade, e o Puja (oferenda).
  • A alimentação vegetariana é um dos pontos essenciais da filosofia hindu. Isso porque é livre da impureza (morte / sangue), e como todo alimento deve ser antes oferecido aos deuses, não se poderia ofertar algo que fosse "sujo".
  • As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito, língua "morta" que deu origem ao hindi e a um grande número de dialetos praticados na Índia. Essas preces recebem o nome de mantras. Os mantras são dirigidos a diversas divindades, ou estimulam qualidades pessoais. Em geral, são entoados 108 vezes, e para sua contagem utiliza-se o japa-mala (colar de contas), uma espécie de "rosário", confeccionado em sândalo ou com sementes de rudraksha (árvores consideradas altamente auspiciosas pela tradição indiana).
  • O mantra mais importante é o OM, "sílaba sagrada" que representa o próprio nome de Deus. OM é a semente de todos os mantras e princípio da criação. Foi dele que derivou toda a matéria - neste aspecto, podemos até traçar um paralelo com o gênesis da Bíblia: "E o som se fez carne".


Shiva, a divindade mais popular da Índia

Shiva é a divindade que representa o princípio masculino. É o deus da morte, da destruição e das transformações profundas. Sua atuação é fundamental, porque do caos que ele promove, é que se faz a nova vida.

Em geral, é mostrado em movimento de dança, no meio de uma roda de Fogo, elemento da natureza ao qual ele está associado. Sua dança, denominada Tandava, simboliza o eterno movimento do universo. Com o pé direito, ele esmaga a cabeça de uma figura bestial - a ignorância - e com o pé esquerdo ele faz um movimento ascendente, indicando a liberação espiritual.

Na Índia, é comum encontrarmos os saddhus - homens "santos", que renunciam ao mundo e vagueiam em busca de sabedoria e iluminação. Devotos de Shiva, os saddhus costumam andar seminus, têm os cabelos bastante compridos e emaranhados e dedicam-se à prática da ioga, que seria uma expressão da dança de Shiva.

O princípio feminino da criação é Shakti, que se manifesta como Parvati (a mãe), Durga (a deusa da beleza), Lakshmi (senhora da arte e da criatividade) e Kali (senhora da destruição). Todas elas são esposas de Shiva.

Ganesha, o removedor de obstáculos

Ganesha é representado como um ser com corpo de homem e cabeça de elefante. De acordo com um dos mitos associados a esta divindade, Parvati tirou uma de suas próprias costelas e com ela fez um filho, a quem encarregou de guardar seus aposentos. Quando seu marido Shiva chegou e encontrou aquele homem nas proximidades o quarto da esposa, matou-o e arrancou-lhe a cabeça.

Diante da tragédia, Parvati exigiu que o marido devolvesse a vida a Ganesha. Então, Shiva prometeu que colocaria em Ganesha a cabeça da primeira criatura viva que aparecesse em seu caminho - e foi justamente um elefante.

Ganesha é protetor dos comerciantes e também dos sábios e escritores. Seus atributos são a prosperidade, a inteligência, o intelecto e a capacidade de superar obstáculos. Também simboliza a união entre o masculino e o feminino (ou os princípios Shiva e Shakti), pois sua tromba é uma forma fálica, e a boca é a forma receptora.

O culto a Krishna é um capítulo à parte na religiosidade hindu. Na verdade, o Movimento para a Consciência de Krishna, ou simplesmente Hare Krishna, como é mais conhecido no Brasil, é uma doutrina de alcance internacional, porém de pouca penetração na comunidade indiana.

Budismo

O Budismo é uma filosofia de vida baseada integralmente nos profundos ensinamentos do Buda para todos os seres, que revela a verdadeira face da vida e do universo.

Quando pregava, o Buda não pretendia converter as pessoas, mas iluminá-las. É uma religião de sabedoria, onde conhecimento e inteligência predominam. O Budismo trouxe paz interior, felicidade e harmonia a milhões de pessoas durante sua longa história de mais de 2.500 anos.

O Budismo é uma religião prática, devotada a condicionar a mente inserida em seu cotidiano, de maneira a leva-la à paz, serenidade, alegria, sabedoria e liberdade perfeitas. Por ser uma maneira de viver que extrai os mais altos benefícios da vida, é freqüentemente chamado de "Budismo Humanista".

O Buda

O Budismo foi fundado na Índia, no séc. VI a.C., pelo Buda Shakyamuni. O Buda Shakyamuni nasceu ao norte da Índia (atualmente Nepal) como um rico príncipe chamado Sidarta.

Aos 29 anos de idade, ele teve quatro visões que transformaram sua vida. As três primeiras visões – o sofrimento devido ao envelhecimento, doenças e morte – mostraram-lhe a natureza inexorável da vida e as aflições universais da humanidade. A quarta visão — um eremita com um semblante sereno – revelou-lhe o meio de alcançar paz. Compreendendo a insignificância dos prazeres sensuais, ele deixou sua família e toda sua fortuna em busca de verdade e paz eterna. Sua busca pela paz era mais por compaixão pelo sofrimento alheio do que pelo seu próprio, já que não havia tido tal experiência. Ele não abandonou sua vida mundana na velhice, mas no alvorecer de sua maturidade; não na pobreza, mas em plena fartura.

Depois de seis anos de ascetismo, ele compreendeu que se deveria praticar o "Caminho do Meio", evitando o extremo da auto-mortificação, que só enfraquece o intelecto, e o extremo da auto-indulgência, que retarda o progresso moral. Aos 35 anos de idade (aproximadamente 525 a.C.), sentado sob uma árvore Bodhi, em uma noite de lua cheia, ele, de repente, experimentou extraordinária sabedoria, compreendendo a verdade suprema do universo e alcançando profunda visão dos caminhos da vida humana. Os budistas chamam essa compreensão de "iluminação". A partir de então, ele passou a ser chamado de Buda Shakyamuni (Shakyamuni significa "Sábio do clã dos Shakya"). A palavra Buda pode ser traduzida como: "aquele que é plenamente desperto e iluminado".

A fundação do budismo

O Buda não era um deus. Ele foi um ser humano que alcançou a iluminação por meio de sua própria prática. De maneira a compartilhar os benefícios de seu despertar, o Buda viajou por toda a Índia com seus discípulos, ensinando e divulgando seus princípios às pessoas, por mais de 45 anos, até sua morte, aos 80 anos de idade. De fato, ele era a própria encarnação de todas as virtudes que pregava, traduzindo em ações, suas palavras.

O Buda formou uma das primeiras ordens monásticas do mundo, conhecida como Sangha. Seus seguidores tinham as mais variadas características, e ele os ensinava de acordo com suas habilidades para o crescimento espiritual. Ele não exigia crença cega; ao contrário, adotava o "venha e experimente você mesmo", atitude que ganhou os corações de milhares. Sua, era a senda da autoconfiança, que requeria esforço pessoal inabalável.

Após a morte de Shakyamuni, foi realizado o Primeiro Concílio Budista, que reuniu 500 membros, a fim de coletar e organizar os ensinamentos do Buda, os quais são chamados de Dharma. Este se tornou o único guia e fonte de inspiração da Sangha. Seus discursos são chamados de Sutras. Foi no Segundo Concílio Budista em Vaishali, realizado algumas centenas de anos após a morte do Buda, que as duas grandes tradições, hoje conhecidas como Theravada e Mahayana, começaram a se formar. Os Theravadins seguem o Cânone Páli, enquanto os Mahayanistas seguem os sutras que foram escritos em sânscrito.

Budismo chinês

Os ensinamentos do Buda foram transmitidos pela primeira vez, fora da Índia, no Sri Lanka, durante o reinado do Rei Ashoka (272 – 232 a.C.). Na China, a história registra que dois missionários budistas da Índia chegaram na corte do Imperador Ming no ano 68 d.C. e lá permaneceram para traduzir textos budistas. Durante a Dinastia Tang (602 – 664 d.C.), um monge chinês, Hsuan Tsang, cruzou o Deserto Ghobi até a Índia, onde reuniu e pesquisou sutras budistas. Ele retornou à China dezessete anos depois com grandes volumes de textos budistas e a partir de então passou muitos anos traduzindo-os para o chinês.

Finalmente, a fé budista se espalhou por toda a Ásia. Ironicamente, o Budismo praticamente se extinguiu na Índia em, aproximadamente, 1300 d.C. Os chineses introduziram o budismo no Japão. A tolerância, o pacifismo e a equanimidade promovidos pelo Budismo influenciaram significativamente a cultura asiática. Mais recentemente, muitos países ocidentais têm demonstrado considerável interesse pelas religiões orientais e centenas de milhares de pessoas vêm adotando os princípios do Budismo.

Ensinamentos do Buda

O Buda foi um grande professor. Ele ensinou que todos os seres vivos possuem Natureza Búdica idêntica e são capazes de atingir a iluminação através da prática. Se todos os seres vivos têm o potencial de tornar-se iluminados, são todos, portanto, possíveis futuros Budas. Apesar de haver diferentes práticas entre as várias escolas budistas, todas elas abraçam a essência dos ideais do Buda.

Karma e a Lei de Causa e Efeito

Uma pessoa é uma combinação de matéria e mente. O corpo pode ser encarado como uma combinação de quatro componentes: terra, água, calor e ar; a mente é a combinação de sensação, percepção, idéia e consciência. O corpo físico — na verdade, toda a matéria na natureza – está sujeito ao ciclo de formação, duração, deterioração e cessação.

O Buda ensinou que a interpretação da vida através de nossos seis sensores (olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente) não é mais do que ilusão. Quando duas pessoas experimentam um mesmo acontecimento, a interpretação de uma, pode levar à tristeza, enquanto a da outra, pode levar à felicidade. É o apego às sensações, derivadas desses seis sentidos, que resulta em desejo e ligação passional, vida após vida.

O Buda ensinou que todos os seres sencientes estão em um ciclo contínuo de vida, morte e renascimento, por um número ilimitado de vidas, até que finalmente alcancem a iluminação. Os budistas acreditam que os nascimentos das pessoas estão associados à consciência proveniente das memórias e do karma de suas vidas passadas. "Karma" é uma palavra em sânscrito que significa "ação, trabalho ou feito". Qualquer ação física, verbal ou mental, realizada com intenção, pode ser chamada de karma. Assim, boas atitudes podem produzir karma positivo, enquanto más atitudes podem resultar em karma negativo. A consciência do karma criado em vidas passadas nem sempre é possível; a alegria ou o sofrimento, o belo ou o feio, a sabedoria ou a ignorância, a riqueza ou a pobreza experimentados nesta vida são, no entanto, determinados pelo karma passado.

Neste ciclo contínuo de vida, seres renascem em várias formas de existência. Há seis tipos de existência: Devas (deuses), Asuras (semideuses), Humanos, Animais, Pretas (espíritos famintos) e Seres do Inferno. Cada um dos reinos está sujeito às dores do nascimento, da doença, do envelhecimento e da morte. O renascimento em formas superiores ou inferiores é determinado pelos bons ou maus atos, ou karma, que foi sendo produzido durante vidas anteriores. Essa é a lei de causa e efeito. Entender essa lei nos ajuda a cessar com todas nossas ações negativas.

Nirvana

Através da prática diligente, do proporcionar compaixão e bondade amorosa a todos os seres vivos, do condicionamento da mente para evitar apegos e eliminar karma negativo, os budistas acreditam que finalmente alcançarão a iluminação. Quando isso ocorre, eles são capazes de sair do ciclo de morte e renascimento e ascender ao estado de nirvana. O nirvana não é um local físico, mas um estado de consciência suprema de perfeita felicidade e liberação. É o fim de todo retorno à reencarnação e seu compromisso com o sofrimento.

O conceito de sofrimento

O Buda Shakyamuni ensinou que uma grande parcela do sofrimento em nossas vidas é auto-infligido, oriundo de nossos pensamentos e comportamento, os quais são influenciados pelas habilidades de nossos seis sentidos. Nossos desejos – por dinheiro, poder, fama e bens materiais – e nossas emoções – tais como, raiva, rancor e ciúme – são fontes de sofrimento causado por apego a essas sensações. Nossa sociedade tem enfatizado consideravelmente beleza física, riqueza material e status. Nossa obsessão com as aparências e com o que as outras pessoas pensam a nosso respeito são também fontes de sofrimento.

Portanto, o sofrimento está primariamente associado com as ações de nossa mente. É a ignorância que nos faz tender à avidez, à vontade doente e à ilusão. Como conseqüência, praticamos maus atos, causando diferentes combinações de sofrimento. O Budismo nos faz vislumbrar maneiras efetivas e possíveis de eliminar todo o nosso sofrimento e, mais importante, de alcançar a libertação do Ego do ciclo de nascimento, doença e morte.


As quatro nobres verdades e o nobre caminho óctuplo

As Quatro Nobres Verdades foram compreendidas pelo Buda em sua iluminação. Para erradicar a ignorância, que é a fonte de todo o sofrimento, é necessário entender as Quatro Nobres Verdades, caminhar pelo Nobre Caminho Óctuplo e praticar as Seis Perfeições (Paramitas).

As Quatro Nobres Verdades são:

1. A Verdade do Sofrimento.

A vida está sujeita a todos os tipos de sofrimento, sendo os mais básicos nascimento, envelhecimento, doença e morte. Ninguém está isento deles.

2. A Verdade da Causa do Sofrimento.

A ignorância leva ao desejo e à ganância, que, inevitavelmente, resultam em sofrimento. A ganância produz renascimento, acompanhado de apego passional durante a vida, e é a ganância por prazer, fama ou posses materiais que causam grande insatisfação com a vida.

3. A Verdade da Cessação do Sofrimento.

A cessação do sofrimento advém da eliminação total da ignorância e do desapego à ganância e aos desejos, alcançando um estado de suprema bem-aventurança ou nirvana, onde todos os sofrimentos são extintos.

4. O Caminho que leva à Cessação do Sofrimento.

O caminho que leva à cessação do sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo.

O Nobre Caminho Óctuplo consiste de:

  1. Compreensão Correta. Conhecer as Quatro Nobres Verdades de maneira a entender as coisas como elas realmente são.
  2. Pensamento Correto. Desenvolver as nobres qualidades da bondade amorosa e da aversão a prejudicar os outros.
  3. Palavra Correta. Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas.
  4. Ação Correta. Abster-se de matar, roubar e ter conduta sexual indevida.
  5. Meio de Vida Correto. Evitar qualquer ocupação que prejudique os demais, tais como tráfico de drogas ou matança de animais.
  6. Esforço Correto. Praticar autodisciplina para obter o controle da mente, de maneira a evitar estados de mente maléficos e desenvolver estados de mente sãos.
  7. Plena Atenção Correta. Desenvolver completa consciência de todas as ações do corpo, fala e mente para evitar atos insanos.
  8. Concentração Correta. Obter serenidade mental e sabedoria para compreender o significado integral das Quatro Nobres Verdades.

Aqueles que aceitam este Nobre Caminho como um estilo de vida viverão em perfeita paz, livres de desejos egoístas, rancor e crueldade. Estarão plenos do espírito de abnegação e bondade amorosa.

As seis perfeições

As Quatro Nobres Verdades são o fundamento do Budismo e entender o seu significado é essencial para o autodesenvolvimento e alcance das Seis Perfeições, que nos farão atravessar o mar da imortalidade até o nirvana.

As Seis Perfeições consistem de:

  1. Caridade. Inclui todas as formas de doar e compartilhar o Dharma.
  2. Moralidade. Elimina todas as paixões maléficas através da prática dos preceitos de não matar, não roubar, não ter conduta sexual inadequada, não mentir, não usar tóxicos, não usar palavras ásperas ou caluniosas, não cobiçar, não praticar o ódio nem ter visões incorretas.

  3. Paciência. Pratica a abstenção para prevenir o surgimento de raiva por causa de atos cometidos por pessoas ignorantes.

  4. Perseverança. Desenvolve esforço vigoroso e persistente na prática do Dharma.

  5. Meditação. Reduz a confusão da mente e leva à paz e à felicidade.

  6. Sabedoria. Desenvolve o poder de discernir realidade e verdade.

A prática dessas virtudes ajuda a eliminar ganância, raiva, imoralidade, confusão mental, estupidez e visões incorretas. As Seis Perfeições e o Nobre Caminho Óctuplo nos ensinam a alcançar o estado no qual todas as ilusões são destruídas, para que a paz e a felicidade possam ser definitivamente conquistadas.

Tornar-se um Buda

Ao desejar tornar-se budista, deve-se receber refúgio na Jóia Tríplice, como um comprometimento com a prática dos ensinamentos do Buda. A Jóia Tríplice consiste no Buda, no Dharma e na Sangha.

Budistas laicos podem também fazer voto de praticar cinco preceitos em suas vidas diárias. Os Cinco Preceitos são: não matar, não roubar, não ter conduta sexual inadequada, não mentir e não se intoxicar. O preceito de não matar se aplica principalmente a seres humanos, mas deve ser estendido a todos os seres sencientes. É por isso que a Sangha e muitos budistas devotos são vegetarianos. No entanto, não é preciso ser vegetariano para tornar-se budista. O quinto preceito – não se intoxicar – inclui abuso de drogas e álcool. O entendimento deste preceito é uma precaução, por não ser possível manter a plena atenção da consciência e comportamento apropriado quando se está drogado ou bêbado.

Os budistas são incentivados a manter estes preceitos e a praticar bondade amorosa e compaixão para com todos os seres. Os preceitos disciplinam o comportamento e ajudam a diferenciar entre certo e errado. Através do ato de disciplinar pensamento, ação e comportamento, pode-se evitar os estados de mente que destroem a paz interior. Quando um budista incidentalmente quebra um dos preceitos, ele não busca o perdão do pecado por parte de uma autoridade superior, como Deus ou um padre. Ao invés disso, se arrepende e analisa o porquê de ter quebrado o preceito. Confiando em sua sabedoria e determinação, modifica seu comportamento para prevenir a recorrência do mesmo erro. Ao fazer isso, o budista confia no esforço individual de auto-análise e auto-perfeição. Isto ajuda a restaurar paz e pureza de mente.

Muitos budistas montam um altar em um canto tranqüilo de suas casas para a recitação de mantras e a meditação diária. [Um mantra é uma seqüência de palavras que manifestam certas forças cósmicas, aspectos ou nomes dos budas. A repetição contínua de mantras é uma forma de meditação.] O uso de imagens budistas em locais de culto não deve ser visto como idolatria, mas como simbologia. Enfatiza-se o fato de que essas imagens em templos ou altares domésticos servem apenas para nos lembrar a todo momento das respectivas qualidades daquele que representam, o Iluminado, que nos ensinou o caminho da liberação. Fazer reverências e oferendas são manifestações de respeito e veneração aos Budas e Bodhisattvas.

Meditação

A meditação é comumente praticada pelos budistas para obter felicidade interior e cultivar sabedoria, de forma a alcançar a purificação da mente e a libertação. É uma atividade de consciência mental.

A felicidade que obtemos do ambiente físico que nos envolve não nos satisfaz verdadeiramente nem nos liberta de nossos problemas. Dependência de coisas impermanentes e apego à felicidade do tipo "arco-íris" produz somente ilusão, seguida de pesar e desapontamento. Segundo o Budismo, existe felicidade verdadeira e duradoura e todos temos o potencial de experimentá-la. A verdadeira felicidade jaz nas profundezas de nossa mente, e os meios para acessá-la podem ser praticados por qualquer um. Se compararmos a mente ao oceano, pensamentos e sentimentos tais como alegria, irritação, fantasia e tédio poderiam ser comparados a ondas que se levantam e voltam a cair por sobre sua superfície. Assim como as ondas se amansam para revelar a quietude nas profundidades do oceano, também é possível acalmar a turbulência de nossas mentes e revelar pureza e claridade naturais. A meditação é um meio de alcançar isso.

Nossas ilusões, incluindo ciúmes, raiva, desejo e orgulho, originam-se da má compreensão da realidade e do apego habitual à nossa maneira de ver as coisas. Através da meditação, podemos reconhecer nossos erros e ajustar nossa mente para pensar e reagir de maneira mais realista e honesta. Esta transformação mental acontece gradualmente e nos liberta das falácias instintivas e habituais, nos permitindo adquirir familiaridade com a verdade. Podemos, então, finalmente, nos libertar de problemas como insatisfação, raiva e ansiedade. Finalmente, compreendendo a maneira como as coisas de fato funcionam, nos é possível eliminar completamente a própria fonte de todos os estados mentais incômodos.

Assim, meditação não significa simplesmente sentar-se em uma determinada postura ou respirar de uma determinada maneira; estes são apenas recursos para a concentração e o alcance de um estado de mente estável. Apesar de diferentes técnicas de meditação serem praticadas em diferentes culturas, todas elas partilham o princípio comum de cultivar a mente, de forma a não permitir que uma mente destreinada controle nosso comportamento.

A vida humana é preciosa e, no entanto, nós a conseguimos.
O Dharma é precioso e, no entanto, nós o ouvimos.
Se não nos cultivarmos nesta vida,
Quando teremos essa chance novamente?

Características do budismo

Bodhisattva — Um ser iluminado que fez o voto de servir generosamente a todos os seres vivos com bondade amorosa e compaixão para aliviar sua dor e sofrimento e levá-los ao caminho da iluminação. Existem muitos Bodhisattvas, mas os mais populares no Budismo Chinês são os Bodhisattvas Avalokiteshvara, Kshitigarbha, Samantabhadra e Manjushri.

Bodhisattva Avalokiteshvara (Kuan Yin Pu Sa) — "Aquele que olha pelas lágrimas do mundo". Este Bodhisattva oferece sua grande compaixão para a salvação dos seres. Os muitos olhos e mãos representados em suas várias imagens simbolizam as diferentes maneiras pelas quais todos os seres são ajudados, de acordo com suas necessidades individuais. Originalmente representado por uma figura masculina, Avalokiteshvara é, hoje em dia, geralmente caracterizado, na China, como uma mulher.

Bodhisattva Kshitigarbha (Guardião do Mundo) — Sempre usando um cajado com seis anéis, ele possui poderes sobre o inferno. Ele fez o grande voto de salvar os seres que ali sofrem.

Curvar-se em reverência — Este ato significa humildade e respeito. Os budistas se curvam em respeito ao Buda e aos Bodhisattvas e, também, para recordar-se das qualidades virtuosas que cada um deles representa.

Buda — Este é muito mais do que um simples nome. A raiz Budh significa "estar ciente ou completamente consciente de". Um Buda é um ser totalmente iluminado.

Buda Shakyamuni (o fundador do Budismo) — Nasceu na Índia. Em busca da verdade, deixou sua casa e, disciplinando-se severamente, tornou-se um asceta. Finalmente, aos 35 anos, debaixo de uma árvore Bodhi, compreendeu que a maneira de libertar-se da cadeia de renascimento e morte era através de sabedoria e compaixão – o "caminho do meio". Fundou sua comunidade, a qual tornou-se conhecida como Budismo.

Buda Amitabha (Buda da Luz e Vida Infinitas) — É associado com a Terra Pura do Ocidente, onde recebe seres cultivados que chamam por seu nome.

Bhaishajya Guru (O Buda da Medicina) — Cura todos os males, inclusive o mal da ignorância.

Buda Maitreya (O Buda Feliz) — É o Buda do Futuro. Depois de Shakyamuni ter se iluminado, ele é aguardado como sendo o próximo Buda.

Instrumentos do Dharma — Estes instrumentos são encontrados nos templos budistas e são utilizados por monges durante as cerimônias. O "peixe" de madeira é normalmente colocado à esquerda do altar, o gongo, à direita e o tambor e o sino, também à direita, porém um pouco mais distantes.

Incenso — É oferecido com respeito. O incenso aromático purifica não só a atmosfera, mas também a mente. Assim como sua fragrância alcança longas distâncias, bons atos também se espalham em benefício de todos.

Flor de Lótus — Pelo fato de brotar e se desenvolver em águas lamacentas e turvas e, ainda assim, manifestar delicadeza e fragrância, a Flor de Lótus é o símbolo da pureza. Também significa tranqüilidade e uma vida distinta e sagrada.

Mudra – Os gestos das mãos que geralmente se vêem nas representações do Buda, são chamados de "mudras", os quais propiciam comunicação não-verbal. Cada mudra tem um significado específico. Por exemplo, as imagens do Buda Amitabha, normalmente, apresentam a mão direita erguida com o dedo indicador tocando o polegar e os outros três dedos estendidos para cima para simbolizar a busca da iluminação, enquanto a mão esquerda mostra um gesto similar, só que apontando para o chão, simbolizando a libertação de todos os seres sencientes. Nas imagens em que ele aparece sentado, ambas as mãos estão posicionadas à frente, abaixo da cintura, com as palmas voltadas para cima, uma contendo a outra, o que simboliza o estado de meditação. No entanto, se os dedos da mão direita estiverem apontando para baixo, isso simboliza o triunfo do Dharma sobre seres desencaminhados que relutam em aceitar o autêntico crescimento espiritual.

Oferendas — Oferendas são colocadas no altar budista pelos devotos. Fazer uma oferenda permite que reflitamos sobre a vida, confirmando as leis de reciprocidade e interdependência. Objetos concretos podem ser ofertados em abundância, no entanto, a mais perfeita oferenda é um coração honesto e sincero.

Suástica — Foi um símbolo auspicioso na Índia antiga, Pérsia e Grécia, simbolizando o sol, o relâmpago, o fogo e o fluxo da água. Este símbolo foi usado pelos budistas por mais de dois mil anos para representar a virtude, a bondade e a pureza do "insight" de Buda em relação ao alcance da iluminação. (Neste século, Hitler escolheu este símbolo para seu Terceiro Reich, mas inverteu sua direção, o denominou "Suástica" e o usou para simbolizar a superioridade da raça ariana.)

Fo Tzu (Pérolas de Buda) — Também conhecido como rosário budista. É um instrumento usado para controlar o número de vezes que se recita os nomes sagrados do Buda, dos Bodhisattvas ou para recitar mantras. Se usado com devoção no coração, ajuda-nos a limpar nossa mente ilusória, purifica nossos pensamentos e ainda resgata nossa original e imaculada Face Verdadeira. São constituídos de contas que podem ser de diferentes tipos: sementes de árvore Bodhi, âmbar, cristal, olho de tigre, ametista, coral, quartzo rosa, jade, entre outros.

Perda e pesar

Que a vida não é livre de sofrimento, é um fato. Sofremos com o envelhecimento, com as doenças e com a morte. O sofrimento tem de ser tolerado pelos vivos e pelos mortos. O propósito supremo do ensinamento do Buda é fazer-nos compreender a causa do sofrimento e encontrar um meio correto de superá-lo.

O Buda nos disse em seus ensinamentos que toda matéria, vivente ou não-vivente, estava constantemente sujeita a mudanças cíclicas. As coisas não-viventes passam por mudanças de formação, duração, deterioração e desaparecimento, enquanto que as coisas viventes passam por nascimento, doença, envelhecimento e morte. Mudar a todo momento mostra a natureza impermanente de nosso próprio corpo, mente e vida. Esta impermanência que temos de enfrentar é inevitável.

O Buda enfatizou que a principal razão do sofrimento é nosso imenso apego a nosso corpo, que é sempre identificado como "eu". Todo sofrimento brota desse apego ao "eu". Para sermos mais exatos, é a "consciência" que se abriga temporariamente no corpo existente, o qual funciona somente como uma casa. Por isso, a concepção comum de que o "eu" é o corpo físico está equivocada. Ao invés disso, seu corpo atual é somente uma propriedade neste tempo de vida. Quando nossa casa fica muito velha, todos nós adoramos a idéia de mudar para uma nova casa. Quando nossa roupa está muito usada, ansiamos por comprar roupas novas. Na hora da morte, quando a "consciência" abandona o corpo, isso é simplesmente encarado como a troca de uma casa velha por uma nova.

A morte é meramente a separação de corpo e "consciência". A "consciência" continua, sem nascimento ou morte, e busca "abrigo" em um novo corpo. Se entendermos isso, não há razão para lamentações. Ao contrário, deveríamos ajudar os que estão à beira da morte a ter um nascimento positivo, ou, simbolicamente, mudar de casa.

No contexto acima, um relacionamento de família ou de amizade existe em "consciência" mais do que em um corpo físico. Não fiquemos tristes por um filho que estuda do outro lado do mundo, por sabermos que ele está distante. Se tivermos a compreensão correta da verdade da vida e do universo, encararmos a morte como o começo de uma nova vida, e não como um ponto final, sem esperança, poderemos perceber que nossos sentimentos de perda e pesar não passam de ilusões através das quais somos enganados. Lamentar a morte é o resultado da ignorância da verdade da vida e o apego a um corpo físico impermanente.

Oito consciências

No Budismo, aquilo que normalmente chamamos de "alma" é, na verdade, uma integração das oito consciências. As consciências dos cinco sentidos — visão, audição, olfato, paladar e tato – mais a sexta, que é o sentido mental, que formula as idéias a partir das mensagens recebidas pelos cinco sentidos. A sétima é o centro do pensamento (manas) que pensa, deseja e raciocina. A oitava é a consciência ou, como também é chamada, o "armazém" (alaya).

Os primeiros seis sentidos não possuem inteligência fora de sua área de atuação; ao invés disso, eles são reportados a manas sem interpretações. Manas é como um general em seu quartel, juntando todas as informações enviadas, transferindo-as, arranjando-as, e devolvendo ordens aos seis sentidos. Ao mesmo tempo, manas está conectado com alaya. Alaya, o armazém, é o depósito onde as ações do karma são armazenadas desde o início dos tempos. Ações ou pensamentos praticados por uma pessoa são um tipo de energia espiritual, acrescentada a alaya por manas.

As ações armazenadas em alaya ali permanecem até que encontrem uma oportunidade favorável para manifestar-se. No entanto, alaya não pode agir por si mesmo, já que não possui nenhuma energia ativa. O agente discriminador, ou a vontade, é manas, o centro do pensamento, o qual pode agir sobre alaya para que ele desperte de seu estado dormente e seja responsável pelo nascimento de objetos individuais, sejam eles bons, maus ou neutros. Uma pessoa pode ter acumulado incontável karma, positivo ou negativo, em vidas passadas. No entanto, se ela não permitir que ele se manifeste, é como se ele não existisse. É como plantar sementes no solo. Se não houver condições adequadas para seu desenvolvimento, as sementes não brotarão. Assim, se plantarmos boas ações nesta vida, as ações de nosso karma negativo anterior não terá chance de se desenvolver nas atividades discriminadoras. Manas está sempre trabalhando em conjunção com a mente e os cinco sentidos; ele é responsável pelas conseqüências dos desejos, paixões, ignorância, crenças, etc. É absolutamente essencial manter manas funcionando corretamente, de forma a que ele interrompa a criação de karma negativo, e, ao invés disso, deposite boas ações em alaya. Isto é possível, já que manas não tem vontade cega, mas é inteligente e capaz de iluminação. Manas é o eixo ao redor do qual toda a disciplina budista se movimenta.

A morte é o processo de ter essas oito partes da consciência deixando o corpo em seqüência, sendo alaya o último. Isso leva cerca de oito horas para acontecer. Assim, o processo da morte não acaba quando a respiração cessa ou quando o coração para de bater, pois a consciência do ser que morre ainda vive. Quando a consciência deixa o corpo, essa, sim, é a hora real da morte.

Os seis reinos

Apesar de a qualidade do renascimento ser determinada pelo acúmulo total de karma, o estado de mente da pessoa que está morrendo, no momento da morte, está, também, relacionado com seu próximo rumo na transmigração para um dos seis reinos da vida. Os seis reinos da vida incluem seres celestiais, semideuses, seres humanos e três reinos malignos: animais, espíritos famintos e seres infernais. Atitudes incômodas e impróprias por parte das pessoas ao seu redor, como lamentações ou movimentação do corpo, tendem a aumentar a dor e a agonia daquele que está morrendo, causando raiva e apego que, quase sempre, sugam a "consciência" emergente para os reinos malignos. Para ajudar a pessoa que está morrendo, não se deve incomodá-la antes da morte até, pelo menos, oito horas depois da parada da respiração; ao contrário, deve-se ajudá-la a manter a calma e uma mente pacífica, ou oferecer suporte com práticas espirituais tais como recitação de mantras.

Funeral

A prática funeral budista é normalmente conduzida com solenidade. Não se estimula o luto. Um altar simples, com uma imagem do Buda, é montado. Há queima de incenso e oferenda de frutas e flores. Se a família assim o desejar, pode haver monges budistas ministrando bênçãos e recitando sutras e os vários nomes do Buda, juntamente com pessoas laicas. Estes procedimentos podem ser seguidos de um elogio à memória do morto. Certos rituais de luto, como vestir roupas brancas, caminhar com um cajado, lamuriar-se para expressar o grande efeito do seu pesar, queimar dinheiro, casas ou roupas feitas de papel para o morto, são, às vezes, considerados como sendo práticas budistas. Na verdade, esses são costumes tradicionais chineses.

A cremação é prática usual no Budismo – 2.500 anos atrás, o Buda disse a seus discípulos que cremassem seu corpo após a sua morte. No entanto, alguns budistas preferem velar seus mortos. A cremação pode ser escolhida, também, por questões de saúde ou de custo.